domingo, 26 de julho de 2009

Certificação.


Odeio este papel, entretanto, hoje especialmente, ele me cabe muito bem. Me traduz. Hoje sou Vítima.
Atingido diretamente pela saudade. Vítimado pela ausência, pela falta.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Quem é o sebo?


Antes que o atual prefeito da cidade em que moro colocasse fim a toda forma de publicidade visual, que se concentravam principalmente naquelas placas imensas de frente de loja. Um dos meus passatempos favoritos em minhas andanças, era observar essa multidão de placas e de propagandas.

Meu trajeto para a escola era um verdadeiro banquete para admirar tudo isso que chamam de "poluição visual" - e que pra mim nada mais era que: um show de criatividade. Tantas placas, e eu esforçava-me o máximo para que nenhuma me escapasse.

O caminho se iniciava. Concecionária, shopping, livraria, lavanderia, casa de carne, loja de colchões, sebo, papelaria, roupas femininas, quitanda, supermercado, banco, mercearia, sebo de novo! Esse tal de Sebo era o único que tinha duas lojas! O desgraçado tinha que ter duas lojas?!

Imaginei que esse sujeito - o Sebo fosse um homem muito bem sucedido. Afinal as placas dos dois estabelecimentos eram lindas, e nunca havia visto nenhuma de suas franquias vazias. Ambiente bem iluminado, e ainda por cima, eu morria de vontade de entrar e conhecer os produtos que ali eram vendidos, apesar de não saber do que se tratava.

Estava decidido. Qualquer dia adiantaria meu horário e viria mais cedo. Só para saber qual o segredo do sucesso desse senhor. Tinha de haver naquele local algo diferente. Estava embuído na missão de decifrar o mistério, e saber quem ou o que era a galinha dos ovos de ouro desse Sebo. Quem podia ser esse fantástico empreendedor?

Mãos a obra. Era chegada a hora de saber o que havia dentro daquele espaço que possuia placas tão belas para anuncia-lo. Entrei, e tudo que vi foram livros velhos - muitos com as páginas já amareladas, alguns discos de vinil com capas opacas - marcadas pelo tempo, entre outas quiquilharias - confesso, bem conservadas. Seria aquilo uma tentativa de ser uma livraria? Como alguém tiha coragem de comercializar coisas tão gastas, era como colocar à venda as peças de um museu a preço de bananas.

Indignado, não resisti e fui perguntar, com tom autoritário, ao balconista. Que tipo de lugar é esse, que só vende coisas gastas? Como isso pode ser? Depois de rir um pouco o funcionário respondeu-me: "esse é um sebo. É um tipo de loja que vende alguns artigos de segunda mão e pricipalmente livros antigos". Aquela notícia me deu uma espécie de choque. Saber assim, de uma hora para a outra, que Sebo não era um empresário de grande sucesso, que sabia criar placas lindas para suas lojas me surpreendeu. Recebi a notícia e aos poucos fui digerindo-a. Aceitei o que aquele balconista tinha acabado de me revelar e continuei a procurar algo ali que pudesse atrair alguém que não fosse fanático por velharias. Haveria algo interessante ali? A resposta não demorou a vir, bastou abriri o primeiro livro (o que já é tema pra outro texto) para descobrir onde e qual estava o motivo para alguém visitar aquele lugar.

Ali nascia um novo hobby. Por decisão própria me tornei amigo daquele senhor Sebo. Deixei de observar placas, passei a observar as letras de livros que encontrava na loja que entrei por achar a placa bonita.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Reencontro.


Tempos atrás, tive uma agradável surpresa. Um encontro por acaso com uma antiga amiga, que trouxe uma porção de recordações extremamente agradáveis. Depois de conversarmos um pouco, um compromisso foi estabelecido: realizaríamos um novo encontro, com data marcada, e que tinha como objetivo reunir algumas pessoas que fizeram parte da nossa vida na época em que os laços entre nós eram mais estreitos.

A reunião foi oficializada e mais membros daquele antigo grupo de amigos foram convocados. Era um evento típico de período de férias. Alguns garantiram presença outros não.

Os dias foram se passando, e na véspera do acontecimento iniciei uma reflexão sobre aqule fato. "Amanhã irei rever meus amigos de pré-adolescência, aqueles que fizeram parte desta etapa marcante em minha vida e na de qualquer pessoa, com os quais, por motivos que me escapam, não tive contato nos ultimos tempos. Nosso tempo livre juntos infelizmente já não existe, assim como as afinidades, que outrora eram notórias entre nós e hoje talvez sejam opostas.

De qualquer maneira estava bastante curioso para escutar as histórias e, possivelmente, até tomar conhecimento de algumas que me envolvem, e que eu nem ao menos me lembrava.

É intrigante pensar que as impressões que eles guardam de mim podem estar tão distante de corresponder à realidade que certamente me transformam num estranho para todos eles. Afinal, depois de um longo período, poucas são as semelhanças entre este que sou hoje e o menino que eles conheceram."

A breve visita ao passado que fiz naquele momento serviu-me para elucidar tudo o que aconteceria no dia seguinte. Naquele momento percebi que o maior acontecimento que se daria não era o encontro com aquelas pessoas, e por mais saboroso que fosse ver todos aqueles rostos de novo, o grande compromisso que tinha era um reencontro comigo mesmo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dança, Circo e Música


Todo tipo de arte tem entre si uma espécie de ligação. Como se uma dependesse e influenciasse a outra. É explicita a interferência tanto direta quanto indireta que o teatro tem no cinema, a arquitetura nas esculturas, a pintura na fotografia e assim por diante. Tudo o que se vê é reproduzido e interpretado. Esse tipo de ligação é comum em diversas áreas mais se torna mais evidente entre as artes.

Os três tipos de arte que aqui serão citados tem estreitas ligações entre si. Falo de: dança, música e circo.

A dança e suas modalidades – clássica, folclórica e popular -, que tem como intenção principal exprimir sentimentos, sensações e assim por diante, através da expressão corporal. O circo e suas demonstrações de habilidade e exibições de capacidade física. A música e toda a sua diversidade – rítmica, harmônica, melódica -, que tem suas partes vocal e instrumental, erudita e popular. São artes que empregam técnicas diferentes entre elas, que tem aspectos próprios que se tornam diferentes em diversas especificidades e objetivos, que só podem ocorrer nelas e em nenhum outro tipo de arte, seja lá qual for. Entretanto, existem pontos em comum e peculiaridades que se relacionam.

A música por ser mais popular acaba tomando mais visibilidade, e proporciona um fenômeno muito interessante, ela torna alguém que não conhece profundamente seus estudos e sua teoria, um entendedor e crítico sobre o assunto. A música ultrapassa o limite de simplesmente arte. Ela traz emoção, sentimentalidades até mesmo a quem diz que não as sente. Creio que essa é a essência da arte, e a música cumpre de forma competente isso, em dias que a arte e a sensibilidade para com ela não são mais tão apreciadas.

Ainda podemos ressaltar entre esses três tipos de arte a possibilidade que existe do trio atuar na mesma apresentação ou espetáculo. O que torna mais interessante a nossa comparação e interligação. Isso faz com que a influência que é normal entre elas transforme-se em complementaridade. Tornando-as, em certas ocasiões, inseparáveis. Poderíamos até citar exemplos, mas, julgo de conhecimento absoluto a cumplicidade e o companheirismo da música para com a dança e a inclusão do mundo circense entre as duas artes anteriormente citadas. A chance de acompanhar em um mesmo picadeiro, palco ou salão as três formas de arte é bem possível em dias de grandes espetáculos, com holofotes e luzes reluzentes espalhadas por grandes capitais e pequenas cidades. Circos com orquestra, cantores com apresentações cada vez mais dançantes e espetáculos de dança com recursos dignos de shows de magia; são o retrato da inteiração e envolvimento que essas artes desfrutam. Eventos carregados da emoção musical, da beleza plastica oferecida pela dança e do fascínio por cada feito que o circo apresenta, são um prato cheio para qual for o publico, independentemente de idade, sexo ou etnia.

Dito isso, convém ainda observar o que neste momento se faz pertinente: A contribuição que a arte tem na organização social. Como esses três tipos de arte podem revindicar direitos, despertar interesse por um certo problema, enfim... Trazer informações importantes socialmente através da arte. Mais do que simplesmente dançar, a expressão corporal desde seus primórdios traz consigo o ideal de resistência, tem um significado social de contestação ao que está imposto pela maioria. O circo faz também isso a seu modo, fazendo da comicidade (que é baseada na ingenuidade do palhaço) grande trunfo para criticar e exprimir opinião de forma sútil. A música sempre fez isso também, trazendo através de seus versos, significações, fazendo da sua harmonia uma fonte poderosa para proferir discursos e idéias, transformando através de suas letras simples canções em 'hinos de libertação' e de clamor social, sejam eles explícitos ou em mensagens ironizadas, que podem ser percebidas entre o ritmo que em ocasiões pode ser pano de fundo para a evidente preocupação com problemas sociais pavorosos.

Os tipos de arte aqui citados não existem somente para serem observadas e vistas como algo que tem apenas plasticidade ou façam bem aos ouvidos. A arte em si, e mais especificamente os três tipos que são motivo do presente texto, nos convidam a vive-las, se-las, fazer parte do que elas nos trazem. Tornar-se para elas o que elas são pra nós. Fazermos por ela o que elas podem fazer por nós.