quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Difícil é encontrar a certeza. Se a todo momento contrario-me, nego o que acabo de afirmar, torno-me adepto ao que repudiava, finjo que o que vivo é verdade, acredito no que acho mentira e transformo em vida o que inventei. Como ter certeza?

Em meio a oposições intermitentes de ideias e pensamentos descubro-me como ser de contrariedades, em todas as coisas. Rapartido entre o pensar e o sentir, entre a razão e a natureza.

De tanto perseguir as verdades, que insistem em não ser encontradas, fico com as mentiras. Só possuo a mentira; pois não sou capaz de ignorar a dúvida que questiona minhas novas e antigas crenças. A parte que põe em dúvida a minha verdade, na qual havia me agarrado, não permite que eu a apreenda, e assim passo a recriar meus conceitos, crenças e opiniões.

Sem ter segurança naquilo que tenho presente procuro o ausente, imaginando que isso me salve, e assim me ofereça a certeza que será imune á oposições, que não terá lacunas recheadas de dúvidas, para que dessa maneira meu coração e minha mente sintam-se seguros; pois finalmente tenho algo em que areditar, algo que traga consigo sentido a todo o resto.

Em nada encontrando certeza descobri o que pode me propiciar isso, a fé.

Por duvidar e questionar tudo, encontro o que pode ser inquestionável. Não coloco razões, limitações, ou barreiras na fé; por ser aquilo no qual eu acredito sem ver ou tocar não carrego com dúvidas essa confiança que resiste intacta, mesmo à revelia de tantas contrariedades próprias do ser inconstante que sou.

Certezas


Mário Quintana


Não quero alguém que morra de amor por mim…
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim…
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível…
E que esse momento será inesquecível..
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém…
e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca
cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter
forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe…
Que ele é superior ao ódio e ao rancor.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia,
e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas…
Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder
dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros…
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim…
e que valeu a pena.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Loucos e santos

Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Honestamente, não dá para acreditar em dor de sentimento. Só se for como metáfora, coisa de escritor, de músico; bonito mas irreal.

Até que a gente experimenta. Até que essa mentirada toda escolhe a gente como alvo. E aí dá pra dizer: dói! Dói mesmo, chega a doer fisicamente. Não sei exatamente em qual lugar, é ali, meio entre o estômago e a garganta.

Chega apertando, rasga, dói de verdade, como aqueles machucados que incomodam.

Mas, já que é como qualquer outra dor, uma hora passa.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Quase tudo como sempre


Foram meses de preparação, expectativa e planos de partidos para a disputa política mais importante do país. Votos apurados e o resultado final foi tão provável como se podia imaginar. Quase tudo bem parecido com as eleições anteriores. O que torna bem mais interessante notar aquilo que só esse pleito apresentou.

O inusitado, que acabou não se traduzindo em resultado nas urnas, pintou com cores fortes a campanha eleitoral 2010.

Os dois principais candidatos ao cargo de Presidente da República fugiram claramente do enfrentamento, escolhendo as estratégias de marketing como recurso para superar o oponente. "Não mexa aqui, não toque naquele assunto", as ordens dadas pelos marketeiros dos candidatos não eram audíveis ao público, em nem vistas em frente as câmeras, contudo estavam lá; presentes em cada frase de efeito, que não surtia efeito algum, e em cada sorriso falso e forçado. Engessados e mais preocupados como seu reflexo na lente das câmeras de televisão difícil é encontrar quem consiga apontar os projetos ou planos de governo que qualquer um deles tenha explicado à população. Nos muitos debates organizados pelas emissoras de TV, e que lembravam conversas sem propósito de pessoas que pouco se gostam, isso porque ainda fomos salvos de maior morosidade com as frases atrevidas de um competidor azarão e petulante que colocava o dedo na ferida alheia.

A oposição não se opôs, e ainda defendia os feitos da situação. A candidata da situação somente exaltava o que foi feito por seu partido e se vangloriava de ter participado, ainda que indiretamente, de planos bem sucedidos sem apresentar nenhuma iniciativa ou particularidade.

E como que para acrescentar o mínimo de realidade a esse panorama, uma terceira candidata surge e confirma a lista de fatos surpreendentes nessa eleição. Um toque de verdade humana apareceu com Marina Silva, e ainda que sem êxito total, nos deu a alegria de ver um ser vivo num contexto impregnado pela artificialidade.

Os 20% de predileçaõ alcançados pela acreana foi a opção por uma terceira via, que apareceu como grata surpresa e que deu aos eleitores, fartos do mesmo, o alento de encontrar alguém que se assemelhe a eles no jeito, na simplicidade e nas intenções.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Mudança


Clarice Lispector



Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a
velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com
atenção os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama…
Depois, procure dormir em outras camas
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais… leia outros livros.

Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.

Corrija a postura.

Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.

A nova vida.

Tente.

Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida,
compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado… outra marca de sabonete,
outro creme dental…
Tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos
óculos, escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.

Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.

Mude.

Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light, mais prazeroso,
mais digno, mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.

Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Eu sei, mas não devia

Marina Calasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

terça-feira, 29 de junho de 2010

É impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é.

(Júlio César)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Paz Social

Há tempos ouvimos falar em paz social, em mudanças de legislação, em punições mais severas e em atos drásticos para que a harmonia na sociedade seja estabelecida. Contudo, os fatos revelam-nos que tal propósito não permanece mais que um mês e logo dá lugar aos interesses de associações políticas. Além da falta de empenho da instituição Estado para punir quem ameace seu povo, e consequentemente a paz desejada por ele, as manifestações públicas são fato flagrante para que essa permissividade, para com as ameaças à população do país, continuem ocorrendo.

Iniciativas inexpressivas, que teoricamente traduziriam o sentimento de indignação e protesto de um país, são o pouco que se vê para lembrar as vítimas - que ilustram a impunidade dominante. Após um, cinco, dez anos do fático acontecimento lamentamos mais uma vez a perda, sem que nada tenha mudado, e assim, depois do momento de compaixão tudo volta a seu lugar.

Cada fato penoso e não punido devidamente no país traz consigo mais uma porção de medidas que não passam de promessas vazias, colecionadas por cidadãos em todo o território nacional. Acontecimentos diários, e com reações que duram dois ou três dias, até que sejam esquecidas novamente tanto por poder público como por população; que agora enxerga fatos bárbaros como naturais.

Reivindica-se paz, sem que se pense em lei. E assim, na falta de sentido do clamor social e das atitudes do governo ainda há quem acredite em paz social sem associá-la à utopia, a sonho distante. Será realmente objetivo de alguém estabelecer essa paz apregoada por tantos se no momento seguinte a acontecimentos lastimosos já o esquecemos, fingindo compadecer-se para que a parte politicamente correta que ainda existe em nós se cale.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lulinha


Luís Inácio “Lula” da Silva, nome bem visto no ocidente, adorado por grandes líderes mundiais, ídolo para muitos e figura inegavelmente carismática. Conquistou ao longo de seus dois mandatos seguidores dentro e fora do país que governa.

Mas, ainda assim nunca foi unanimidade. Seus críticos e opositores, em suas investidas mais fervorosas, não obtiveram sucesso algum em sua missão de manchar a imagem do mandatário brasileiro. Entretanto, não contavam com a ajuda que o próprio Lula daria ao colocar-se em lado oposto a Europa e América, e para que não houvessem enganos o destemido presidente ficaria ao lado do Irã, país temido e antipático a olhos ocidentais. Ahmadinejad – presidente do país do oriente médio - e seu comparsas perceberam essa rica oportunidade; o queridinho do outro lado do mundo oferecendo seus favores, e assim, com acordos feitos a prestação ganharam notoriedade e tempo para saber como agir com seus planos nucleares.

O iraniano aproveitou-se do excesso de bondade brasileiro que em seu anseio em praticar boas ações caiu na arapuca do oriente. A oposição conseguiu o que queria, tornou o venerado Lula ruim para muitos e o fez perder o posto de “O cara” que havia sido dado a ele por Obama.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Padeiro


Por Rubem Braga


Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quanto vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas para não incomodar os moradores, avisava gritando:

- Não é ninguém, é o padeiro!

Interroguei-o uma vez: como tivera a idéia de gritar aquilo?

“Então você não é ninguém?”

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes acontecera bater a campainha de uma cada e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicara que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como o pão saindo do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque o jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo como o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”

Eu assobiava pelas escadas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

André


O volume de seus cabelos, já visíveis de longe, o identificam sem grandes problemas. Paulistano, 19 anos, fã de sons tidos como "Pop" e torcedor desplicente do São Paulo Fuebol Clube. Esse é André Ribeiro Calixto ou como prefere ser chamado André Goyano, adotando assim o último sobrenome de seu avô materno. Apesar de gostar de holofotes não fez questão alguma que algo à seu respeito fosse escrito, dizendo não fazer muita diferença, mas pronto a responder qualquer questionamento.

Dono de algumas manias no mínimo esquisitas, como: estralar o cotovelo e fazer o mesmo com os dedos a todo momento. O garotão sabe ser simpático quando quer, e assim o faz. Impaciente, ao ver as primeiras letras do texto sobre ele sendo escritas faz questão, em tom autoritário, de ver com detalhes como tudo será feito. E cobra quando as peguntas demoram um pouco mais a sair. Canhoto por natureza em sua infância sonhava ser desenhista e inventar personagens que encantassem as próximas gerações, ainda costuma desenhar, mas com menos afinco.

André é tido em seus círculos sociais como o mais ilustre figurante de novelas e comerciais que já conheceram. "Famosão", como os mais esperítuosos, que nem sempre tem piadas tão boas, o chamam. O contato fugaz que teve com "celebridades" em seus trabalhos dão mais orgulho a ele do que suas arrojadas manobras na bateria, que é outra de suas atividades. Em suas aventuras, vistas em horário nobre da televisão brasileira, se destaca pela autura e por esse motivo é facilmente reconhecido.

Gosta de adornos. Relógio, pulseiras, colares, munhequeiras e afins são peças indispensáveis ao sair de casa. Os cabelos merecem tempo exclusivo, tratamento especial para a moldura do rosto. Uma bela olhada no espalho antes de apagar as luzes na despedida, e pronto está tudo em ordem - ou quase tudo. Quem o acompanha tem que se adaptar ao mesmo ritual, se não quiser ser achincalhado. "Você tem que se arrumar direito", diz ele, "Anda muito desajeitado, mal vestido do meu lado". Sem tréguas fita cada tonalidade de camiseta ou calça de sua companhia. Fui reprovado no teste, mas percebendo que não havia jeito concede-me mais alguns momentos.

Bem mais tarde, mais despojado e esparramado na cadeira em frente ao computador, tem os olhos ansiosos e já põe-se a roer as unhas esperando que os letreiros na televisão subam, anunciando o fim da Sessão da Tarde e assim abrindo as portas para Malhação, uma das pricipais atrações do dia.



(Continua...)

terça-feira, 11 de maio de 2010

No dia em que todos palpitam...


Eu também faço questão de palpitar.
Ah se eu fosse o Dunga!

Goleiros:

- Júlio César
- Marcos
- Victor

Zagueiros:

- Lúcio
- Juan
- Thiago Silva
- Miranda

Laterais:

- Maicon
- Daniel Alves
- Gilberto
- Roberto Carlos

Meio-campo:

- Felipe Melo
- Elano
- Ramires
- Gilberto Silva
- Júlio Baptista
- Paulo Henrique Lima
- Kaká
- Ronaldinho Gaúcho

Atacantes:

- Luís Fabiano
- Robinho
- Nilmar
- Grafite

Será?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pior para alguns

A cidade que será sede dos jogos Olímpicos no Brasil vive dias de confusão generalizada e caos. As fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro na ultima semana trouxeram a tona problemas que não limitam-se apenas ao território carioca. Prova disso foram os fatos parecidos que o estado de Santa Catarina e a cidade de São Paulo enfrentaram recentemente.


Esse tipo de problema, embora inesperado, não é novo por aqui. E por incrível que pareça atinge sempre uma só classe social.


Os noticiários e coberturas da imprensa, no último caso, o Rio, parecem bastante com os já transmitidos antes. Em todos os casos citados aqui as contabilizações de vítimas fatais nos temporais davão-se nas extremidades, periferias das cidades atingidas. Sempre nos lugares onde as casas são menos sofisticadas. Coincidência sugestiva, que pode ser apontada como causa da falta de providencias para solucionar mazelas como essas.


Todos os passos dados em ocasiões assim já estão ficando até decoradas pela população. Primeiro espera-se que a fatalidade ocorra, que a chuva ou outros infortunios que surgem da natureza cheguem; lamenta-se o ocorrido, calculam-se as vítimas e prepara-se um discurso que coloca a culpa nas viradas repentinas do tempo ou coisas parecidas; após isso, como em outras tantas vezes, nada é feito.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Poderia ser diferente.

Alguns dias atrás um caso de polícia ganhou páginas de destaque e espaço nos mais variados veículos de comunicação. Glauco, cartunista conhecido por todo o Brasil, e Raoni, seu filho, foram assassinados e dois dias após o acontecido as versões para tudo ainda se cruzavam.


Entre fatos e especulações um jovem de 24 anos foi preso, acusado pelo crime. Cadu, como era conhecido, foi apanhado e logo disse ser ele o autor do delito. Declarações dos próprios familiares davão conta que o acusado pelo homicídio tinha histórico de envolvimento com drogas, e sofria com transtornos mentais. E mesmo com problemas dessa natureza constatados o rapaz era tratado como liberto de todas as situações críticas por ela já vividas.



As soluções eram apenas provisórias para um caso com tantas complicações. E na Céu de Maria, igreja fundada por Glauco, a paz no conturabado mundo de Cadu aparentemente reinava. Pelo que parece havia esperança que o jovem encontrasse naqueles rituais seu escape. Esperanças que foram abaixo com o último incidente.



A recuperação de alguém nas condições que Cadu se encontrava é sim possível e nem ao menos ouso contestar o poder de reabilitação que uma crença pode proporcionar. Alias admiro os trabalhos feitos por entidades religiosas neste sentido. Entretanto, não há como encobertar o ocorrido. Duas pessoas foram mortas, e quase tudo indica que o culpado já não gozava de sua sanidade mental. Resta entender o motivo pelo qual sujeitos como esse, de periculosidade já demostrada, ainda têm espaço e liberdade suficiente para ações como essas.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

E em Barueri...

(Nenhuma vez antes escrevi aqui sobre futebol, apesar de ser um apreciador desse esporte. Esta é a primeira vez então.)

Não é de hoje que a relação entre jogadores e torcida é inconstante. E Ronaldo foi o último exemplo de uma história já vista outras vezes. Ao final de um dos jogos do Corinthians, na Arena Barueri, foi hostilizado por tocedores quando saia do estacionamento e os respondeu na mesma moeda.

No incidente com o camisa 9 corinthiano o atrito não passou de troca de ofensas e gestos. Mas, outros jogadores que também já vestiram branco e preto passaram por situações mais embaraçosas com esa mesma torcida, chamada de "Fiel".

Esse tipo de acontecimento não é exclusividade do Parque São Jorge e nem do Brasil, ao contrário, é fato corriqueiro, e em muitos clubes europeus inclusive. Dá para perceber que tanto aqui como lá o desequilíbrio e a paixão de torcedores extrapola o campo de jogo, e oferece risco a quem tem a bola como instrumento de trabalho.

Portanto, a Ronaldo: que faça o que sabe, e mais uma vez só seja alvo de aplausos. Aos torcedores: mais ponderação e bom senso.