Antes que o atual prefeito da cidade em que moro colocasse fim a toda forma de publicidade visual, que se concentravam principalmente naquelas placas imensas de frente de loja. Um dos meus passatempos favoritos em minhas andanças, era observar essa multidão de placas e de propagandas.
Meu trajeto para a escola era um verdadeiro banquete para admirar tudo isso que chamam de "poluição visual" - e que pra mim nada mais era que: um show de criatividade. Tantas placas, e eu esforçava-me o máximo para que nenhuma me escapasse.
O caminho se iniciava. Concecionária, shopping, livraria, lavanderia, casa de carne, loja de colchões, sebo, papelaria, roupas femininas, quitanda, supermercado, banco, mercearia, sebo de novo! Esse tal de Sebo era o único que tinha duas lojas! O desgraçado tinha que ter duas lojas?!
Imaginei que esse sujeito - o Sebo fosse um homem muito bem sucedido. Afinal as placas dos dois estabelecimentos eram lindas, e nunca havia visto nenhuma de suas franquias vazias. Ambiente bem iluminado, e ainda por cima, eu morria de vontade de entrar e conhecer os produtos que ali eram vendidos, apesar de não saber do que se tratava.
Estava decidido. Qualquer dia adiantaria meu horário e viria mais cedo. Só para saber qual o segredo do sucesso desse senhor. Tinha de haver naquele local algo diferente. Estava embuído na missão de decifrar o mistério, e saber quem ou o que era a galinha dos ovos de ouro desse Sebo. Quem podia ser esse fantástico empreendedor?
Mãos a obra. Era chegada a hora de saber o que havia dentro daquele espaço que possuia placas tão belas para anuncia-lo. Entrei, e tudo que vi foram livros velhos - muitos com as páginas já amareladas, alguns discos de vinil com capas opacas - marcadas pelo tempo, entre outas quiquilharias - confesso, bem conservadas. Seria aquilo uma tentativa de ser uma livraria? Como alguém tiha coragem de comercializar coisas tão gastas, era como colocar à venda as peças de um museu a preço de bananas.
Indignado, não resisti e fui perguntar, com tom autoritário, ao balconista. Que tipo de lugar é esse, que só vende coisas gastas? Como isso pode ser? Depois de rir um pouco o funcionário respondeu-me: "esse é um sebo. É um tipo de loja que vende alguns artigos de segunda mão e pricipalmente livros antigos". Aquela notícia me deu uma espécie de choque. Saber assim, de uma hora para a outra, que Sebo não era um empresário de grande sucesso, que sabia criar placas lindas para suas lojas me surpreendeu. Recebi a notícia e aos poucos fui digerindo-a. Aceitei o que aquele balconista tinha acabado de me revelar e continuei a procurar algo ali que pudesse atrair alguém que não fosse fanático por velharias. Haveria algo interessante ali? A resposta não demorou a vir, bastou abriri o primeiro livro (o que já é tema pra outro texto) para descobrir onde e qual estava o motivo para alguém visitar aquele lugar.
Ali nascia um novo hobby. Por decisão própria me tornei amigo daquele senhor Sebo. Deixei de observar placas, passei a observar as letras de livros que encontrava na loja que entrei por achar a placa bonita.
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